Paris, uma madrugada do Outono de 1955. Madame Marie Louise, a concierge do nr. 4 da Rue de Naples, detestava visitas a horas mortas, mas abriu.
My-thu, colega e amiga, fotógrafa de profissão, parisiense de gema a quem uma bizarria paterna baptizara com nome vietnamita, subiu ao terceiro e tocou umas quantas vezes antes que eu acordasse.
Na mão segurava um disco com a conhecida capa amarela da Deutsche Grammophon. Nesse tarde tinha descoberto o Concerto nr. 1 de Max Bruch e, pensando nos amigos, comprara sete. A mim cabia o último. Com a condição de, ali e agora, ouvirmos pelo menos o primeiro movimento. Ouvimos. Gostei tanto que ficou para a vida. Anos depois My-thu faleceria num acidente, mas cada vez que o oiço vem-me à lembrança o momento e a amizade.
A interpretação nesse disco era de Yehudi Menhuin, mas Itzhak Pearlman não lhe fica atrás. Para o terceiro movimento gosto de Jascha Heifetz, não pelo talento, mas porque me traz outra recordação.