quarta-feira, fevereiro 8

Talvez

 

Um cancro. Um pacemaker. Uma herança pendente. Uma sexualidade perturbada. Uma ambição desmedida e tola, sem nada em que se apoie. Um tolhido do reumático. E eu.

Sete à mesa, almoçando em silêncio, remoendo os pensamentos que lhes cavam as rugas.
– Segunda-feira vou a Roma – diz o cardíaco.
Encaram-no, à espera do resto, mas ele não ergue os olhos, continua a comer, passam-se minutos antes que volte a falar:
– Fico uma semana ou duas. A ver no que dá.
Ninguém quer café. Abraços. Até logo. Até amanhã. Abrem os guarda-chuvas. Os que ficam acenam.
Seis vidas entrançadas. Roídas de pequenas raivas, ódios velhos e os medos fundos de quem tem razões para temer o fim próximo. Porque talvez haja Inferno.