Correr risco é uma maneira de enfrentar a vida, continua válido o ditado “quem não arrisna não petisca”. Na idade que tenho e nas peripécias na vida, sobraram ocasiões em que me vi a encarar a balança, perguntando-me se valia a pena o risco, ou seria melhor usar da cautela.
Aonteceu assim que, dois anos atrás um desconhecido, empresário e fotógrafo, quis saber se eu teria disposição para lhe prefaciar um álbum de fotografias do Douro. Não era pergunta para responder à ligeira, mas Libório Manuel Silva tomara a precaução de acompanhar o pedido com dois albuns de fotografias que tinha publicado.
Folheei-os atento, mas não precisei de muito para me dar conta que havia ali qualidade de sobra, quem fotografava assim sabia de arte e fotografia. Infelizmente, obrigava-me também a recordar o sonho que desde a adolescência tinha acalentado e há muito abandonei, ver-me um dia a igualar o talento de Dorothea Lang, Yousuf Karsh, Bresson, Ansel Adams, Helmut Newton...
Anunciei-lhe que aceitava, tanto mais que por razões muito pessoais, o rio, a região, a paisagem e a gente do Douro como que me pertencem, naquele sentido em que logo de pequenino me “possuiram”, se apoderaram de mim, me terem enfeitiçado.
Contudo, o prefácio não faz honra ao livro, é apenas um apêndice, e embora ainda não tenha visto as fotografias que o compõem, arrisco-me a afirmar, sem falsa modéstia, que não vale mais do que o sincero testemunho que é da minha afeição pelo Douro.