quinta-feira, junho 2

Garrafas ao mar

 

Tenho especial ternura por quem sonha. Na blogosfera sou particularmente atraído por aqueles blogues de mulheres jovens e menos jovens, ilustradas de fotografias quase sempre a preto e branco, de um erotismo doce, acompanhadas de textos curtos das suas vivências e pensamentos, salpicados de citações em inglês, por certo imaginando que desse modo estabelecem uma conotação entre as aventuras reais ou fantasiadas da sua existência, e o mundo onde brilham Angelina Jolie, Scarlett Johansson, Gwyneth Paltrow e semelhantes.

Sinto de facto a ternura que atrás apontei, ao mesmo tempo que se me aperta o coração quando dou largas à fantasia, imaginando legiões de mulheres sozinhas, ou mal acompanhadas, remetendo para a internet  mensagens de amor, descrevendo nelas aventuras únicas ou repetidamente sonhadas, aguardando um bom resultado com esperança igual à dos náufragos que, em ilhas desertas, atiravam ao mar garrafas  com pedidos de salvação.

Tudo por aí são clubes, likes, amigos às dezenas de milhar, paixões mais instantâneas que o caldo Knorr, e contudo, a julgar pelo que vejo, leio, oiço, raramente a dificuldade de existir assoberbou assim a vida de tantos.