sábado, abril 30

Desapareceram os galhos

 

Devia ser o contrário, mas quanto mais visivelmente arrogantes, cheios de si, seguros do que julgam ter visto, que julgam saber e do que o mundo lhes deve, cônscios da sua importância, da alta craveira a que se elevam, da unicidade da pessoinha que são, mais me esforço para manter o sério.
Não vá você agora julgar que me refiro a ministros, banqueiros, cientistas geniais, escritores  candidatos ao Nobel. Com esses não tenho trato, vivem noutra rua. Falo de gente no meu dia-a-dia, o vulgo, o povão, a grande massa que vai dos chamados humildes à mais mediana das medianias.
Houve tempo em que a precaução mandava que os humildes se comportassem com humildade, e os que o não eram fingissem as virtudes de mostrar respeitinho, aceitando todos que cada macaco se aquietasse no galho onde as circunstâncias o tinham posto. Mas na atmosfera energética e acelerada em que vivemos, desapareceram os galhos e, sem apoio para assentar o traseiro, a macacada perdeu as estribeiras.
Há dias calmos, noutros ganho a certeza de que a maioria dos que me rodeiam, de facto caiu da palmeira para o volante. Mesmo os que não tiraram carta nem têm carro.