domingo, abril 3

As guerras de antigamente

 

Para quem como eu já viveu tantas, a começar pela da Abissínia em 1936 até esta, com Putin a chamar-lhe reconquista, e tanto comentador a explicar o que não tem explicação, por vezes acontece que a memória dispara para o antigamente, retirando dos seus fundos um ou outro caso de anos bem diferentes

Os tempos eram simples, estava-se a pouco mais de meio do século passado, e nas cidades seria diferente, mas na vila perdida nos confins de Trás-os-Montes, usos, modos e costumes pareciam insensíveis à passagem dos anos.

Citadino que lá chegasse na tarde do domingo de que agora é questão, e fosse ao café, não digo que tivesse de esfregar os olhos para crer, mas de certeza estranhava o que via. A televisão sem som, os reformados no dominó, aqui e ali um a ler o jornal. Atrás do balcão o  “Favas”, sempre azedo por achar pouco o rendimento. Ao fundo, na mesa redonda, que à noite era para os da sueca, um pequeno grupo bebia cerveja e escutava o senhor Quaresma explicar com gestos largos e no seu modo de tabelião, que a enorme diferença entre as guerras de agora e as de antigamente, não era das armas ou da maquinaria, mas da mentalidade.

- Claro que se matava e morria, na guerra sempre assim foi e continuará a ser. Mas então havia um certo respeito pelo inimigo. Para só falar desse caso, em mil setecentos e tal estavam os franceses contra os ingleses, e  antes de começar a batalha o comandante dos franceses disse aos ingleses que disparassem eles primeiro. Se bem me lembro a frase foi « Messieurs les Anglais, tirez les premiers.» Vão lá dizer isso hoje em dia !

- Cá na minha – resmungou o “Areias”, tapando a boca e a falar de lado para que só o “Grilo” ouvisse – respeito uma bosta! Foi mas é manha dos franciús. Se os bifes disparassem primeiro tinham de voltar a carregar, perdiam tempo, não ficava um.