Estais tramados: vós, elas e os lhes. A liberdade foi-se e nem destes por ela, entretidos com o modelo e a cor das máscaras, o tipo e a qualidade das vacinas, a urgência dos testes, o aborreciento de que por maldade de Bolsonaro – variante amazónica, quarta estirpe, quinta vaga - na vossa rua se dêem cenas de Bombaim e seja preciso meter cunhas, pagar os olhos da cara para ter o oxigénio garantido.
Estais tramados, porque ides andando estranhamente contentes, dóceis, satisfeitos, certos de que perigo já não há nem vai haver, as sagradas férias estão à porta, nos destinos exóticos os locais foram limpos e arejados, os "locais" ensaiam as boas-vindas, o Pedinchão-mor garantiu que vem aí "uma pipa de massa", e será tanta que vai dar para todos, uma reedição do Volfrâmio de carinhosa memória, quando o dinheiro nascia entre as fragas e bastava apanhá-lo, esforço que muitos dos vossos avós achavam exagerado, trabalhar era pro preto, e quando deram conta o erro não tinha compostura.
Estais tramados porque tudo se repete, mas também porque nunca vos mostrastes tão obedientes, dóceis, assustadinhos, dando a impressão de que regressastes à infância, ansiosos de miminhos e colo, chupando o dedo, certos e seguros que tudo vai melhorar, o que passou não foi tão mau como se esperava, ao fim de contas ainda andamos cá todos.
Mas não andamos. É ilusão. Olhando em volta já não se distinguem dos zombies os que ainda respiram.