Cristo assim exige, mas é mandamento difícil de cumprir, esse de amar o semelhante. Fosse ele como nós, semelhante mesmo, boa cópia nossa, eventualmente aqui e ali uma diferençazita, mais paz haveria no mundo, grande sossego reinaria nos lares.
Por má sorte, o semelhante em geral esquece a obrigação de sê-lo, ou de se comportar como se fosse, um nada o desbrida e põe aos coices, a bradar que as suas ideias são justas, correcta a atitude que mostra, o seu clube o da boa camisola.
Em lugar de sê-lo, ou pelo menos tentá-lo, o semelhante muito faz para se mostrar avesso, regurgitando bílis e ressentimento.
Mas é bem provável que seja essa a intenção do Senhor que, dificultando as coisas, põe à prova a nossa fortaleza de ânimo. No que me toca, confesso que, mau grado a boa intenção, nunca fui muito cumpridor do mandamento. Mas como ao Altíssimo apraz escrever direito por linhas tortas, é a contragosto, e porque o não amo, que cada dia me revejo mais no semelhante.