Fazendo contas não destrinço se é das recordações ou da imaginação que me vem proveito, se da rotina ou duma ou doutra tarefa a que me obrigo. Ao certo sei que me interrogo sobre a utilidade do que faço, do pouco que faço, e em que fundo nascerá este agudo sentimento de independência que me obriga a não participar, mesmo quando daí me viria benefício.
É dizer que sempre andei e continuo a andar desacertado do mundo, há horas em que me desconheço, momentos em que a certeza de existir me vem apenas do peso do corpo, porque o espírito, esse esvoaçava pelos longes da irrealidade e do impossível.
De modo que até para mim próprio sou má companhia, e abundam as ocasiões em que de bom grado me despediria desse outro que também sou. Pagaria, mas não há à venda, para ter uma alma como tantas invejo, as que possuem certezas fortes, traçam um caminho e o seguem sem desvios nem hesitações.
No que me toca, e desde que dela tomei consciência, a minha rota tem sido de hesitações e recuos, desvios, estranhos confrontos, perguntas sem resposta. Ganhei? Perdi? O Diabo que o diga, e Deus me dê paz.