Bom seria, poder limpar o cérebro como se lava a cara, mas não há água nem sabão que ajude. Assim, por nada coisa nenhuma, toma-nos o azedume. Queremos sossego e em vez dele vêm os pensamentos aos trambolhões, a memória acirra o que desejamos esquecer, repisa o que nos afligiu, repete ad infinitum palavras que incomodaram. Assuntos mesquinhos tomam proporções de nuvem negra. Uma banalidade faz disparar raivas. Envolve-nos que nem capote a tolice alheia, a desmesura das vaidades, a impertinência dos pequeninos orgulhos, a fanfarronice.
Li ontem à noite uma entrevista com Harold Pinter, em que este dizia ter levado quase cinco anos a escrever a sua peça The Homecoming. Pouco depois, num blogue de literaturas e curiosidades, aprendi que um jovem compatriota em nove anos escreveu já vinte e nove obras.
Porque me incomoda isto? Como seria bom poder limpar o cérebro como lavo a cara.