Andaria então pelos quase trinta anos quando alguém, com um modo de inesperada severidade, me avisou de que eu nada sabia da vida.
Ainda hoje o sou pouco, mas nessa altura não era nada dado a acatar a opinião alheia. Dessa vez, porém, por ser pessoa que me estimava e eu tinha em alto apreço, a admoestação não caiu totalmente em ouvidos de surdo. É assim que meio século depois as suas palavras ressoam na memória sempre que me interrogo sobre o que sei da vida, ou melhor: sobre o que julgo que sei da vida.
A resposta é uma dolorosa confissão. Sem falsa modéstia tenho de conceder que os muitos anos não abonaram a experiência que deveria ter dela, nem diminuíram a surpresa que me causa a minha ignorância. Muitos serão os que vivem com o sentimento de que avançam tacteando na penumbra. E como eu, outros haverá também que não conseguem atinar com o que lhes acontece e, em vão desespero, tentam compreender porque motivo a vida lhes troca as voltas e os deixa sem norte.