Conheci-a e sofri-a ainda miúdo, a raiva à portuguesa. Desde então perdi-lhe o medo, mas continua a fascinar-me, tanto mais que com o correr do tempo me sobraram oportunidades de conhecer outras e fazer comparações.
A nossa distingue-se pela prepotência impotente, pela cobardia. É de gritos – "Agarra-me, ou faço uma desgraça!"- de compromissos e fingimento. Mais manobra calculista do que convicção do íntimo, é de bazófia e teatro. É uma raiva de armadilhas, fintas, esperas no escuro, ajustes de contas que raro ou nunca se ajustam, porque também não era esse o fim. Dá-se a ilusão que é de macho, mas é só de gestos. Ar e vento. Dança. É grosseira. No modo une o estadista e o calceteiro.
É nossa. Tão à portuguesa, como o cozido.