É pouco o que me assusta, muito pouco o que me surpreende, e aceito com bonomia as mudanças, mesmo aquelas que reviram as minhas vivências.
Um exemplo: venho do tempo em que o apalpão era caso de bofetadas ou polícia, e hoje nos aeroportos sigo obediente na fila que se deixa apalpar e eventualmente se põe em pêlo.Terrorismo, segurança, prevenção, sobram sempre argumentos para que o cidadão entre no rebanho sem discutir, acertando o passo. E neste nosso mundo de escutas, satélites, de controlos e tecnologias com que Orwell nem sequer sonhou, a privacidade e a sua defesa são assuntos que só afligem a mesma gente que reverencia o Dalai Lama, treme com o aquecimento global, bebe água engarrafada e acredita firme que o chá verde evita o cancro.
Mas verdade é que quase todos os dias vamos perdendo um bocadinho do que deveria ser só nosso, ou nos anunciam os "benefícios" de medidas para nosso bem e salvação.
Uma recente nasceu na cabeça de um político em Haia, que prepara a proposta de que nos pénis dos infectados com HIV seja feita uma tatuagem cautelar.
Abanamos descrentes a cabeça e um colunista com sentido de humor sugeriu que a tinta empregada seja fluorescente, de modo a tornar-se visível nos darkrooms.
Sorrimos, encolhemos os ombros, mas nunca se sabe quanto demorará para que a tolice de hoje seja a imposição de amanhã.