Café De Jaren, Nieuwe Doelenstraat 20, Amsterdam. Dois andares de salas espaçosas, o rio Amstel a tocar-lhe a esplanada, um pessoal feminino escolhido a dedo pela amabilidade e a beleza.
Quando passo por lá, em geral entro, se bem que aquilo seja mais lugar para yuppies and beautiful people do que para reformados. Acontece, porém, que tenho uma relação de nostalgia com o edifício, que antes de ser café foi banco, e antes de ser banco teve lá instalado durante muitos anos o instituto de dramaturgia da universidade. Nele aprendi umas coisas de teatro, desaprendi outras, ganhei a certeza de que escrever para o palco estava fora do meu alcance, mas desse passado guardei simpatias que perduram.
Assim, pois, se como ontem me acontece ir por ali, vêm as recordações, pago-me um café. Talvez por ser a meio da tarde, havia pouca gente e consegui sentar-me a uma das mesas mais cobiçadas, as que ficam junto da grande vidraça que dá para a esplanada e para o rio. O tempo morrinhento parecia influir no tom das conversas, que se mantinham num discreto zum-zum.
A excepção era a mesa junto da minha, onde duas jovens mulheres ora bichanavam aos ouvidos uma da outra, ora explodiam em gargalhadas.
Num gesto descuidado uma delas empurrou a cadeira contra a minha. Quando se voltou a pedir desculpa dei-me conta que era a bela e talentosa actriz que recentemente contracenou num filme com Tom Cruise. Sorriu, murmurou uma desculpa, acenei e ela voltou-se de novo para a amiga, retomando a conversa.
- Não compreendo – dizia aquela – Ele sempre teve essa fama. Já durante o primeiro casamento era assim. O que eu gostava de saber era como é que fazes para o acalmar.
A resposta saiu clara e em voz alta, acompanhada pelo riso de ambas, mas ninguém pareceu dar conta.
- Palavra? – insistiu a amiga.
- Palavra. Duas cervejas e um broche.