quinta-feira, novembro 26

É o que se chama tê-los

Por motivos de logística doméstica a quarta-feira é o dia de ir a Moncorvo fazer compras no supermercado, entrar na loja do senhor Graciano para fruta e verduras, depois na livraria do senhor Cardanha que me reserva o Expresso, de modo que leio o estimável semanário com cinco dias de atraso, o que regra geral pouca diferença faz, mas ontem me aborreceu ao descobrir que desde sábado tinha perdido a impressionante prosa de Clara Ferreira Alves, porque aquilo são, digo-o com todo o respeito, palavras que muito jornalista que se gaba de  "ter tomates" não teria coragem de escrever.

Vou guardar a página para reler de vez em quando e saborear, em particular as passagens que, verdadeiras catilinárias, não desmereceriam de ser pronunciadas no ambiente majestoso de um senado.

As catanadas de Clara Ferreira Alves nada deixam inteiro do presidente do Brasil, a quem por ignorância da vida militar chama "chefe de caserna", mas logo passa ao tom de Catilina no Senado de Roma: "Sim, Bolsonaro é um estúpido, ou boçal, ou bestial (de besta), ou entupido, ou grosseiro… é idiota, imbecil, estólido, estulto… Bolsonaro é um estúpido clássico promovido muito acima da sua competência num país com uma subclasse sem instrução e uma classe superior instruída na corrupção, no oportunismo e na manipulação que autorizem a manutenção da subclasse num estado supersticioso, iletrado e miserável. Uma perfeita sociedade pós-colonial que se julga moderna e civilizada."

O restante da página também vale muito a pena, passando em revista o inevitável Chega, o já destituído Trump, e que "Rui Rio não pode alegar ingenuidade. Nem, noutro assomo de estupidez à Chamberlain, esperar que o Chega fique "mais moderado."

Se você ainda não leu, não perca.

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É a segunda vez que Clara Ferreira Alves está neste blog. A primeira foi  aqui, em 28 de Maio de 2008.