O provérbio ouvi-o ainda miúdo, à minha avó Elisa, cada vez que o correio lhe trazia a malfadada intimação para pagar “a décima”, um para mim misterioso vocábulo, tanto mais que ao recebê-la ela ensombrava, e vinham-lhe as lágrimas aos olhos.
Sem curiosidade pelas preocupações dos adultos, levei anos a descobrir que era um imposto arbitrário, de facto calculado a olho, sobre a produção agrícola dos terrenos, e motivo de sobra para verdadeiros traumas.
Porém, como a alternativa ao não pagamento seria o confisco, por muito que doesse o único remédio era perder um dia de trabalho, e ir à vila entregar o dinheiro às Finanças.
Que fora de qualquer dúvida manda quem pode, ocorreu-me a semana passada ao ouvir a lição do Vice-Presidente J.D. Vance aos “miúdos” da União Europeia. Caladinhos, quietos, espantados com a bruteza daquele americano, que sem vergonha na cara nem papas na língua, lhes dizia alto e bom som as verdades que eles de sobra conhecem, e melhor ainda trafulham, parasitas que são da res publica, gastando tempo e fundos a estudar e legislar sobre assuntos tão importantes como a necessidade de impedir que as tampas possam ser separadas das embalagens.
Inesquecível e histórico momento, já revi a cena umas quantas vezes, não para atentar nas palavras do vice-presidente, mas com malícia, interessado na expressão de choque dos rostos da assistência, alguns literalmente de boca aberta e olhos arregalados, descrentes do que ouviam e temendo a conclusão.
Fui – quem o não foi nessa altura? – um sincero idealista da união dos países e a abolição das fronteiras, mas a esse entusiasmo há muito disse adeus, sem que fosse preciso ver na rua a fúria dos agricultores. Grande pena, mas a UE é chão que já deu uvas.