Um português a viver no estrangeiro, o meu caso há sete décadas, confronta por vezes situações que tornam complicada a sua maneira de reagir, vendo-se em certos momentos posto entre a espada e a parede, noutras a hesitar entre a franqueza e o que pode ser tomado por estupidez, ou pior: falta de patriotismo.
Se já era assim uns vinte anos atrás, as circunstâncias vieram complicar-se com o desmesurado interesse dos estrangeiros afortunados quererem ter casa em Portugal. Isso porque, fora o poupar-lhes dinheiro, oferece também uma, hoje em dia muito rara possibilidade: a de poderem reviver a situação privilegiada de casta superior, tal como a que gozaram os seus avós na época colonial.
Infelizmente não há bela sem senão, e embora a passagem de dinheiro vivo entre mãos resolva muitas situações conflituosas, ou oposição de interesses, uma ou outra surge em que a parte – neste caso o estrangeiro – que se sente prejudicada, quer recorrer à lei.
Começa ele então por contactar um advogado, que as mais das vezes, se não todas, lhe será recomendado como muito capaz, mas também na posse daquelas relações que aceleram o que, para o comum dos mortais, demora eternidades a resolver.
Julgando-se em bom caminho, vê-se o ingénuo no começo de uma bizantina via dolorosa. Informa-o o advogado que a lei que ontem vigorava, já outra a substituiu. Que o funcionário que decide está de baixa por tempo indeterminado. Que...
Cabe-me então – português e amigo – tentar justificar a bizantinice de muitas das nossas leis e regulamentos, mas também o poderio concentrado nas mãos e nos bolsos dos advogados e funcionários públicos.
Estranho é que, em vez de agradecer os conselhos que tinham pedido, mostram má cara, discordam, acham que desdenho e critico a terra onde nasci.