domingo, março 9

A pulhítica que temos

 

A franqueza manda confessar o desinteresse que há muito tenho pela política nacional, causado não só pela personalidade e a actuação dos que dela fazem modo de vida, como pelo triste espectáculo que é vê-los a saltitar de uma trafulhice para a seguinte, de um “desvio” para outro mais lucrativo. Na argumentação da sua defesa poderiam aprender com os que nas feiras vendem banha de cobra, mas incapazes que são, até para isso lhes falta flair.

Medíocres, cinzentos, nem carne nem peixe, metem os pés pelas mãos, debitam um palavreado de trivialidades, embrulham-se nos argumentos, custa imaginar que gente assim seja eleita pelos cidadãos para o govêrno do país, quando a sua “competência” até uma loja do chinês levaria à bancarrota.

Todavia, outro galo canta se o interesse é do próprio bolso, pois então mostram-se campiões do malabarismo e nem Houdini, fosse ele vivo, lhes levaria a palma.

“Mas tudo pode mudar nas próximas eleições”, sussurram-me ingénuos bem intencionados. Ou que aconteça um milagre. Ou que com esta maré das direitas a ganhar, o Chega avance e demonstre se é capaz de fazer diferente. Juram outros, que mais auspicioso ainda, e quase garantia de um futuro melhor para Portugal, seria que em vez das tristes figuras ansiosas por se verem sentadas no cadeirão presidencial, o almirante  se pusesse em marcha acelerada para Belém.

Sonhadores inveterados, para esses não há vacina que os proteja dos acessos de nostalgia do antigamente, nem do desejo que um homem forte apareça a segurar as rédeas do mando. Garantem que, com genica e autoridade, a esse pouco custará pôr no bom caminho os figurões que fingem mudar a música e a valsa, quando de facto, de braço dado, há cinquenta anos se requebram a dançar o mesmo tango.