sexta-feira, fevereiro 14

O peluche da EU é surdo

 

No  OBSERVADOR

Em vez da Ucrânia, JD Vance criticou a Europa pela "perda de valores fundamentais", censura e "altos níveis de imigração

Líderes europeus esperavam um discurso centrado no conflito da Ucrânia mas ouviram o vice-presidente dos EUA criticar duramente as políticas do velho continente, da liberdade de expressão à imigração.

 

O vice-presidente dos EUA, JD Vance, disse esta sexta-feira que a administração Trump “está está muito preocupado com a segurança na Europa”, referindo que a maior ameaça ao velho continente não é a Rússia mas sim a perda de “valores fundamentais” e a censura à liberdade de expressão. Vance criticou ainda a Europa, que, diz, ignora a vontade do seu povo, não respeita a liberdade religiosa e não impede a imigração ilegal.

“A administração Trump está muito preocupada com a segurança europeia e acredita que podemos chegar a um acordo razoável entre a Rússia e a Ucrânia”, disse o vice-presidente dos EUA, no discurso que fez na Conferência de Segurança de Munique. No entanto, e ao contrário do que se esperava, esta foi a única referência à guerra no discurso de Vance — que não abordou as ameaças de segurança externa à Europa, nomeadamente aqueles que poderão vir a ser protagonizadas por Moscovo. Em vez disso, Vance escolheu criticar o que considera ser a perda de “valores fundamentais” na Europa.

A ameaça que mais me preocupa em relação à Europa não é a Rússia, não é a China, não é nenhum outro ator externo“, disse Vance. “O que me preocupa é a ameaça interna – a retirada da Europa de alguns de seus valores mais fundamentais, valores partilhados com os Estados Unidos da América”, disse o vice-presidente norte-americano, citado pelo site Euroactiv. O vice-presidente dos EUA elencou vários exemplos do que considera ser a censura à liberdade de expressão na Europa, dando o exemplo do Reino Unido, onde um homem foi preso por realizado um protesto contra o aborto junto a uma clínica que realizava aquele procedimento.

“Na Grã-Bretanha e em toda a Europa, a liberdade de expressão, temo, está em declínio”, disse Vance, criticando ainda as leis europeias que, acusa, limitam a liberdade nas redes sociais ou que têm como alvo o que Vance designa como discurso cristão. Segundo o New York Times, a plateia recebeu as palavras do vice-presidente dos EUA com perplexidade.

Vance criticou ainda o cordão sanitária à extrema-direita em vários países europeus. “Se têm medo dos seus próprios eleitores, não há nada que a América possa fazer por vocês”, disse o responsável. Outra das críticas feitas por Vance incidou sobre a imigração na Europa – uma bandeira da administração Trump.

Segundo o NYT, o vice-presidente dos EUA pediu mesmo aos europeus que abandonem a recusa de cooperar com partidos anti-imigração, apelando a que as preocupações dos eleitores com os altos níveis de imigração sejam respeitadas. Vance fez ainda referência às vítimas do atentado em Munique, cometido por um afegão, esta quinta-feira, para defender um travão à imigração. “Quantas vezes devemos sofrer esses contratempos terríveis antes de mudarmos de rumo e levarmos a nossa civilização numa direção diferente?”, questionou, citado pelo site Politico.”