domingo, fevereiro 9

A falta de respeito

 

Que já não há respeito por nada nem por ninguém, é daquelas expressões que, ouvidas ou proferidas vezes sem conta, perdem o impacto que lhes era atribuído, e sem remédio são degradadas ao nível dos pleonasmos ou dos verbos-de-encher.

Essa expressão, plena de certezas, usam-na com frequência os mais velhos, argumentando assim que, num mítico passado, embora não fosse geral, o respeito implicava um outro, e certamente mais elevado grau de deferência. Infelizmente tudo muda, e com verdade se pode afirmar, que até mesmo o respeito anda já pelas ruas da amargura.

Semanas atrás, na cidade holandesa de Assen, os ladrões fizeram explodir a entrada de um  museu onde, por empréstimo, estavam expostas ricas, raras e arqueológicas obras de arte, emprestadas pelo Museu da História Nacional da Roménia. Quase todas em ouro, multiseculares, e de um valor incalculável,  destacava-se no espectacular conjunto o chamado Elmo de Ouro de Cotofenesti, que data do ano 450 AC, é feito de ouro maciço, e pesa mais de um quilo.

Recordando outros roubos de preciosas obras de arte, sobretudo quadros pintados por artistas famosos como Dali, Van Gogh e Picasso, disse comigo que não tardará a que se repita o que algumas vezes tem acontecido em situações idênticas: os ladrões anunciarem que se encontram dispostos a negociar a devolução, desde que o montante do pagamento satisfaça as suas exigências.

Porém, falando com pessoa que sabe dessas coisas, foi-se-me a ingenuidade. Segundo ele, negociar é sempre arriscado, e aos ladrões nada interessam os séculos ou respeitar o valor arqueológico, sim quanto pesam em ouro. Com o quilo do nobre metal a valer oitenta e cinco mil euros, o mais provável é que vão derreter tudo.