" No he sido nunca nacionalista; pero he sido siempre nacional, y esto significa para mí sentir un entusiasmo siempre renaciente ante las dos docenas cosas españolas que están verdaderamente bien y un odio invextinguible hacia todo lo demás que está verdaderamente mal".
Ortega y Gasset
A pergunta data provavelmente dos netos de Adão, mas esses não dispunham das possibilidades publicitárias do Novo Testamento, e assim nos encostamos a Pilatos quando, com ênfase, queremos saber o que é a Verdade.
Com a nossa e a alheia se confecciona a História, o curioso refogado de factos, mentiras e aparências que, segundo o interesse dominante, levianamente muda de sabor e colorido.
Neste relato do ano e meio seguinte ao 25 de Abril de 1974 ninguém encontrará a Verdade, sim uma colectânea de factos e acontecimentos, uma ou outra profecia e os comentários que a mudança, mais radical na aparência que na realidade, me levaram então a fazer.
Por se destinar, sobretudo, ao público holandês que, nas palavras de um crítico, sabia então "assustadoramente pouco" de Portugal, inclui-se um resumo histórico que ao leitor português poderá parecer supérfluo. Contudo, se nunca os leu, talvez isso o leve a, proveitosamente, tomar conhecimento da "História de Portugal" e do "Portugal Contemporâneo", de Oliveira Martins, e a admirar-se, como eu em permanência me admiro, que desde há tantos séculos sejam diminutas as mudanças de atitude do bom povo português em relação à res publica e aos que a tratam como coisa sua.
Numa tarde de Setembro de 1968 uma cadeira quebrada terminava a carreira política de Salazar. Todavia, durante os vinte e três meses seguintes a Morte, ironicamente, fez-se esperar, enquanto os jornais publicavam boletins dum optimismo tétrico: "O Presidente Salazar urinou". "O Presidente Salazar já é capaz de escrever o seu nome". O Diário de Notícias, lembrado de como antes se homenageavam os reis, dera-lhe um cognome: O Grande Ausente". E durante esses vinte e três meses ninguém ousou dizer-lhe que já não reinava.
O Presidente da República, Caetano, os ministros, visitavam-no diariamente, punham em cena reuniões ilusórias, pediam a sua opinião, fingiam anotar os seus conselhos, seguir os seus mandos, "mas não tinham coragem de lhe contar a verdade".
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in Portugal, a Flor e a Foice