domingo, fevereiro 23

Quando tudo muda

 

Um pouco mais de cinquenta anos passados, assisti à fundação deste bairro de Amesterdão – Zuidoost o seu nome oficial, Bijlmermeer o popular - e fui dos primeiro moradores. Desde então cresceu enormemente, andará agora ao redor de oitenta mil o total dos habitantes, mas entre eles são escassos os autóctones, pois o número de nacionalidades se calcula em cento e oitenta.

Quem vive no que, por facilidade, chamarei um bairro tradicional de Amesterdão, cidade com usos, ruas, canais e costumes seculares, dificilmente poderá fazer ideia do impacto causado no dia-a-dia do Zuidoost, por uma tão desmesurada mistura de pessoas, modos, línguas, crenças e costumes.

O passsante ocasional de pouco dará conta, mas se for dia do mercado certamente vai olhar perplexo, e caminhará de boca aberta, descrente da realidade que testemunha, e das línguas que ouve, do exotismo dos trajes. pois um ambiente assim seria de esperar na Nigéria ou no Ghana, mas não a escassos dez quilómetros do Palácio do Dam, na praça da capital dos Países Baixos.

Todavia, bem diferente será a sua impressão, caso lhe aconteça ter de andar por ali durante as chamadas horas mortas. Ainda não se pode comparar à Chicago dos anos vinte do século passado, mas pouco a pouco para lá caminha, pois não lhe faltam os ajustes de contas resolvidos a rajadas de Kalasjnikov, os assassinatos à facada, os raptos, os sequestros.

Tudo isso e mais, devido em grande parte às desmesuradas somas de dinheiro originadas pelo tráfico da droga. E da mesma maneira que faz pasmar a variedade de trajes exóticos, causa ainda maior surpresa ver miúdos quase imberbes a conduzir um Lamborghini, ou um daqueles Mercedes com que sonham os pais de família ao volante do Toyota.