Em conversa de amigos dá-se de quando em quando o caso de discordarem as opiniões, e então quase se pode apostar que um dos presentes, querendo rebater o ponto de vista doutro, sairá com o clássico “Nem tudo o que parece é”.
Devo confessar, que para pôr fim à discordância, ou rebater um argumento sem pés nem cabeça, eu próprio abuso desse chavão. Porém, nos últimos tempos, dou-me conta de que refreio o hábito, e isso menos porque me tenha tornado razoável, antes devido à confusão decorrente do bombardeamento de opiniões, certezas e probabilidades que, queiramos ou não, constantemente nos atinge.
Assim me consideram agora fraca companhia, pois me abstenho de opinião sobre as intenções de Putin, o futuro da economia mundial, o clima, as minas do lítio, o machismo de Trump, os transsexuais e os travestis, as empresas de Elon Musk... E paro aqui, pois se antigamente, por muito menos já se me desandava a cabeça, hoje em dia tudo para mim é turbilhão e desnorte.
A certeza em determinado momento, é desfeita no minuto seguinte. Jura este que a Síria foi libertada, prova aquele que é tudo teatro. Dizem ter o novo líder a cabeça a prémio por dez milhões de dólares, vêmo-lo sorridente aos beijos e abraços. Ainda por cima sem turbante, mas de boné à moderna, não se vá pensar que depois de uma revolução a sério tudo fica como dantes.
Com o ano a findar aumenta a avalanche. Já seriam demais os prenúncios das videntes, calham-nos de borla as certezas dos analistas, dos futurólogos, dos doutorados nos vários ramos da ciência que, desde a estatística da agricultura mundial à diminuição da pesca no Atlântico, da falta de casas para alugar às imprevisíveis consequências dos subsídios, tudo comentam, sobre tudo debitam certezas.
Acuda-nos o Altíssimo, faça com eles uma barrela.