Há tempo infindo que sabemos ser a melancolia contagiosa, daí a boa razão – de facto o dever – de evitarmos incomodar o próximo com as mazelas, contratempos, avarias e desilusões que nos afligem.
Para má sorte do geral, o mês de Dezembro, tempo de festejos, harmonia familiar, ceias de Consoada, parabéns de Boas-Festas, mostra muitas vezes má cara, aumentando assim o risco de, desatinados e fracos, cedermos ao desânimo. É mês de dias cinzentos, frio, chuva, vendaval, contando-se pelos dedos os que nascem soalheiros e assim se manterem até anoitecer.
Contudo, mesmo se de quando em quando nos calha o alívio de um céu azul, desde o sofrimento dos parentes e dos amigos, aos incómodos do dia-a-dia, dos revezes da fortuna aos sarilhos no trabalho, às guerras em todos os cantos do mundo, sobram razões de tristeza e desalento.
É então que, em vez de seguirmos o corajoso mandamento de pegar o touro pelos cornos, nos deixamos ficar paralíticos e cegos para tudo o que dê ânimo, conforto, salvação. Cedemos impotentes à tristeza, ao desespero, as sombras levam a melhor, escorregamos devagarinho e sem remédio, no precipício onde se esconde o verdadeiro negrume, aquele que só a alma conhece.
Haverá bóia que nos salve, remédio que nos cure? Felizmente há, embora alguns disso façam profissão, e outros o tenham por negócio de bom lucro, mas na realidade não é mercadoria que se compre, recebemo-la de mão beijada. O grande transtorno está em que a melancolia se afunda no íntimo, com tendência para brincar às escondidas, desafiando a nossa força de vontade, teimosa em persistir no martírio.