sexta-feira, setembro 3

Ó tempo volta pra trás!

 

No final de 1999 fiz esta lista de lojas de Lisboa. Prefiro não saber quantas ainda existem.

Confeitaria Nacional - Praça da Figueira, 18-B. Fundada em 1829. Foi fornecedora da Casa Real. O escritor Eça de Queiroz era seu cliente. Fabrica na época do Natal mais de mil e quinhentos quilos de um bolo-rei de fórmula secreta.

Ervanária Eufémia N. Almeida – Praça da Figueira 6. Fundada em 1819.  Ervas e chás medicinais, flores, incenso do Brasil.

Azevedo Rua - Rossio, 72. Um dos mais antigos e talvez o último chapeleiros de Lisboa. Casa fundada em 1886. Chapéus, bonés, boinas e panamás amontoam-se nos armários originais.

Luvaria Ulisses – Rua do Carmo, 87-A. Quase com um século de existência, vende luvas de inúmeros tipos e materiais.

Ourivesaria Aliança – Rua Garrett, 50. Fundada em 1909. Belo salão de ourivesaria decorado em estilo Luís XV, com móveis e armários que datam da fundação.

Manteigaria Londrina - Rua das Portas de Santo Antão, 55. Fundada em 1926. Tornou-se famosa pela qualidade das suas manteigas de fabrico caseiro. Hoje o forte do seu negócio são os queijos, os presuntos e o Vinho do Porto.

Ervanária Hermética – Largo da Anunciada, 9. Estabelecimento secular, muito procurado pelas suas ervas medicinais. Os empregados receitam sem hesitar os chás adequados aos sintomas do padecimento dos clientes. Os armários de nogueira são os originais.

Casa Pereira da Conceição – Rua Augusta, 102. Fundada em 1933. Casa especializada em cafés de qualidade superior e de proveniências exóticas, como os de Timor e São Tomé. Os seus chás, vendidos avulso, vêm da China e de Taiwan. Os moinhos de café são os originais.

Camisaria Pitta – Rua Augusta, 195. Hoje vende também fatos, gravatas e os acessórios de que o homem elegante necessita. A fama, porém, vem-lhe das camisas. Fundada em 1885, foi a primeira camisaria da Península Ibérica, contando entre os seus clientes a Casa Real e ambas as aristocracias: a do nome e a do dinheiro. As suas impecáveis camisas continuam a ser feitas à mão e com botões de madrepérola.

Manteigueira Silva - Rua D. Antão de Almada, 1-C. Fundada em 1920. Conhecida por vender bacalhau da melhor qualidade, proveniente da Noruega e da Islândia e, como antigamente, seco ao ar livre.

Manuel Tavares - Rua da Betesga, 1-A. Fundada em 1868. Especializada em doces regionais, enchidos artesanais, presuntos, queijos, bacalhau e vinhos. Enorme estoque de Vinho do Porto, com garrafas datando de 1868. A garrafa mais cara  é um vintage de 1963, da Quinta do Noval.

Casa Pereira - Rua Garrett, 38. Há quase século e meio que se vendem aqui cafés do Brasil, Angola, Timor e São Tomé.

A Licorista - Rua dos Sapateiros, 220. Fundada no começo dos anos 20. Famosa então pela qualidade dos seus vinhos e licores. Fernando Pessoa foi cliente assíduo e a sua presença acha-se assinlada por um painel de azulejo. Hoje é em parte snack-bar, mas os seus licores continuam a ser apreciados. Experimente a trombadinha, feito à base de banana, amêndoa, anís e hortelã.

A Carioca - Rua da Misericórdia, 9. Fundada em 1936. Casa de grande nomeada pela qualidade dos seus cafés e chás.

Africana - Rua dos Correeiros 156. Curiosa barbearia fundada por angolanos no início da década de 50.

Primeira Casa das Bandeiras - Rua dos Correeiros, 149. Fundada em 1888. Aqui se fabricou a primeira bandeira da República Portuguesa. Os proprietários orgulham-se de contar entre os seus clientes, além do Governo Português, o Racing Football Club de Paris e a Casa Real de Espanha.

Barbearia Campos - Largo do Chiado, 4. Fundada nos fins do séc. XIX, possui uma atmosfera de museu, realçada pelos mármores e pela extensa colecção de instrumentos de barbearia.

Retrosaria Bijou - Rua da Conceição, 91. Linda fachada de arte-nova, datada de 1915. Botões, linhas, agulhas, aqui se encontra tudo o que é necessário para a arte da costura.

Casa Midões - Rua da Conceição, 117. Fundada em 1880. Bordados, crochet, rendas, figurinos, revistas de modas.

Cutelaria Polycarpo - Rua de São Nicolau, 19. Fundada em 1822. António Polycarpo, o fundador, recebeu uma medalha de ouro na Exposição Universal de Paris de 1855, por ter inventado um estojo para instrumentos de dentista. Alguns dos instrumentos de estomatologia por ele inventados continuam a ser usados, e a firma fabrica também instrumentos cirúrgicos. Segundo o actual proprietário, na Europa inteira nenhuma outra casa possui uma variedade igual de tesouras de qualidade semelhante. Salazar comprava aqui os seus canivetes.

Correaria Victorino de Sousa - Rua dos Correeiros, 200. Fundada em 1922. Reputado fabricante artesanal de arreios para cavalos.

Ourivesaria W.A. Sarmento - Rua do Ouro, 251. Fundada em 1870. Famosa pela beleza e a qualidade dos objectos de joalharia, conta várias casas reais entre a sua clientela.

David & David - Rua Garrett, 112. Fundada em 1882. Casa de tecidos e perfumaria.

Casa Havaneza – Largo do Chiado, 24. Tabacaria fundada por um belga em 1861. Estabelecimento emblemático do Chiado e da cidade. Durante um século ocupou um espaço que ia até à Rua Nova da Trindade. Lugar de encontro de intelectuais, políticos e artistas. Citada vezes sem conta em obras literárias. 

Livraria Férin – Rua Nova do Almada, 70. No início do séc. XIX Jean-

Baptiste Férin, belga, fabricante de carruagens, pai de onze filhos refugiou-se em Portugal para escapar às guerras napoleónicas. Uma filha sua abriu em 1839 um cabinet de lecture, do que resultou a actual livraria, que continua na mesma família. Eça de Queiroz era cliente habitual e refere-a frequentemente nos seus romances.