Aborrecem-se os jovens com o resmungar
dos anciãos, e motivo têm de sobra, pois para a sua compreensível pressa de
viver pouco há de mais enfadonho do que suportar a lengalenga do antigamente,
aquele remoer das coisas boas do passado, a simplicidade das pessoas, a pureza
do ar, o sabor da comida, de como os vizinhos davam ajuda e o respeito que
havia, as boas maneiras, a beleza das praias, o orgulho de ser português.
No que me cabe, e a chegar ao fim
da linha, mas com boa memória de como nos meus tempos de rapaz os velhos me
pareciam em extremo aborrecidos, não deve haver quem com verdade se possa
queixar de que eu o tenha moído com recordações de um fictício paraíso, ou assustado
exagerando os medos e as carências doutros tempos.
Todavia, por vários motivos e
evitando fazer juízos de valor, há circunstâncias em que me vejo a comparar o
presente e o passado, não para aborrecer os que começam na vida ou vão a meio
caminho, antes para me maravilhar com algumas mudanças e porque me sinto
desnorteado com aquelas que ultrapassam o meu entendimento.
Nos anos que levo foi colossal o
que mudou, incrível a velocidade a que aconteceu: já era adulto quando o
plástico, os detergentes, os motores a jacto, a televisão, o computador e
tantas outras maravilhas entraram nas nossas vidas. Contudo, a par do
extraordinário, vivi alterações que aos olhos dos agora jovens parecerão tontas
ou comezinhas, mas nalguns casos me obrigaram a ajustamentos, umas vezes
ridículos, noutras estranhos, quase sempre
perturbantes.
Só que tu, caro jovem, mesmo com boa vontade e paciência não
estás aparelhado para que tas confesse, e por isso as calo.