Ouve-se de vez em quando que a vingança se serve fria, e situações
há em que, de verdade, é bom dar-se a gente um tempo de espera, não sacar logo
da navalha.
Por outro lado, e embora não ofereça a mesmo alívio, no
geral dos casos chega-se à conclusão de que o desdém é arma mais eficiente e de
resultado duradouro.
Mas entre a facada imediata e a premeditação a longo
prazo, em matéria de vingança o escritor dispõe ainda do que um amanuense
chamaria "terceira via": esmerar-se num retrato do ofensor e, uma vez
a obra acabada, certo que ele/ela se reconhecerá, saborear-lhe a raiva impotente.
Não me venham agora com moralidades nem preconceitos: embora
a pecúnia raro seja o que deveria ser, certo é que, fazendo dela uso
conveniente, a criação literária pode oferecer inesperados benefícios.