Era casado com uma daquelas loiras de quem se diz mal: grosseira, espalhafatosa nos modos e na fala, banha a mais, pintura a mais, ouro a mais, saia a menos, cabeça zero.
O divórcio saiu caro, mas diz
que de boa vontade teria pago o dobro, a liberdade é um grande bem.
Para segundas núpcias foi buscar
uma ao Suriname. Pretinha, redonda nas formas, avultada no altar, o traseiro
empinado das altas cavalarias, beiços de Louis Armstrong a cantar What a Wonderful World.
Durou pouco. A sujeita tinha
gostos bizarros, passava o dia na cama a ver televisão e a queixar-se da estranha gente, do frio,
da neve, do pouco calor do Verão, do escuro do Inverno. Fazia refeições de M&M's e Coca-Cola. Soltava livremente uns fumos que, da primeira vez que o
notou, quase tinha telefonado à Companhia do Gaz, a alertar que havia fuga.
Com esta a separação calhou
baratucha, porque ela não estava ao corrente do que podia sugar e, nas suas bandas,
também o ditado diz Kinderhand is
gauw gevuld, o que trocado em miúdos vale por: "mão de criança com
pouco se enche".
A actual encontrou-a o ano
passado, quando esteve de férias na Nigéria, descobrindo que, à semelhança do que
garantem mais de 60% das raparigas do país, era princesa. Um pouco como os
russos no tempo dos Czares, que quando tinham uma vaca se intitulavam príncipes.
Por enquanto não tem queixas,
mas aponta-lhe um mau hábito: sai à noite para dançar com gente da sua.
Contou-me isto quando fui visitá-lo
ao hospital, onde está por ter quebrado uma perna a esquiar nos Apeninos. E diz
que só ousa pedir-mo a mim, que sou amigo e vizinho, mas poderia eu,
discretamente, dar uma olhadela às andanças da princesa?
Poderia, mas não estou em idade
nem sou polícia. Fora isso, já a tenho visto entrar no carro de um príncipe da sua tribo, sujeito
de metro e noventa, aí à volta dos cento e vinte quilos, e umas manápulas…
Sosseguei-o. Disse-lhe que tenho
a certeza que ela se comporta. Porém, mais certeza tenho que vai ser o terceiro
divórcio, e a seguir um quarto casamento, porque diz ele que quem "comeu" princesa não quer outra carne.