quinta-feira, março 29

"... é como quem não vê".

Dizem os que não sabem, que para tudo há uma idade. A infância para os brinquedos, na juventude os amores, aos trinta e quarenta tratar da vida, a seguir o declínio, para os velhos o repouso e a solitude da antecâmara da eternidade.
Além de que semelhantes asserções se prestam a confusão, quem as enuncia tiraria proveito se pensasse duas vezes, olhasse para si próprio, olhasse depois em redor e, cuidadosamente, só então abrisse a boca.
É escasso o interesse que tenho em saber o que vai na cabeça do meu semelhante, que ideia faz ele do mundo, ou que miragens o divertem, mas de vez em quando sou confrontado com afirmações, não direi de ignorantes, mas de ingénuos que deslizem alegremente na arrogância da pouca tarimba.
Digo isto com conhecimento de causa, pois à volta dos dezoito ou quê também tive essa fase.
Acontece agora que, depois de debitar ontem aqui umas divagações sobre o amor, vêm duas damas, que suponho jovens, repreender-me pelo que lhes parece ridículo e baboso.
Aos seus olhos assim será, e talvez elas encontrem apoio na conhecida expressão: "If youth only knew: if age only could!". Mas excepções abundam, e é privilégio ter um  passado para recordar e fruir alegremente o presente.