É assunto que há tempos me rodava na cabeça, mas disparou quando o Henrique Raposo anunciou aqui a agitação que ia na Tunísia devido às "maminhas" da menina e do desdém do rapaz pelo que manda o Profeta, copulando neste mundo com a huri a que o crente só tem direito no outro.
Devo dizer que, do caso, me ficou primeiro a impressão de que era uma fotografia tola, e o olhar e a boquinha entreaberta da menina não prenunciavam cabeça com excessiva cabeça. No futebolista mal atentei, talvez porque continuo desinteressado da sublime arte de pensar com os pés. Mas continuei a remoer sobre o caso das "maminhas" e o fascínio que nos machos exercem, mau grado séculos de arte, de pornografia, décadas de liberdade sexual para tutti quanti, e uma internet que, em permanência, oferece oceanos delas.
Ocorreu-me também o Corta-Fitas, de que sou visitante diário. Aprecio o que lá se escreve , embora muitas vezes discordando, mas saboreio em particular a subtil estratégia de marketing, a qual combina as "maminhas" à sexta-feira com a exegese dominical dos textos sagrados.
Há outros exemplos, mas não me quero alargar, nem vou discorrer sobre o que se passa nos lares e nas camas, quando o senhor sonha com as "maminhas" que viu no E Deus Criou a Mulher, e a madama, capaz como todas de ler pensamentos, reflecte sobre o conteúdo do seu próprio estrofião.
Domingo passado, uns quilómetros antes de Bordéus, dou-me conta de que preciso encher o depósito, e o estômago avisa que é hora do almoço. Para não deixar a autoestrada submeto-me de mau grado à roubalheira de € 15 por um prato de batatas fritas, duas rodelas de pepino, uma andouillete. Os 35 cl. de mau vinho são € 8, o pãozinho € 2, a sobremesa será €5, o café € 3.
Começo pela andouillete, por acaso saborosa, é então que os três se sentam na mesa ao lado. Compatriotas. Quarentões despachados. Fatos Armani ou semelhantes. Vozes de quem gosta de ser ouvido, modos e gargalhadas a marcar a distância que os separa da plebe em redor. Um deles vai buscar qualquer coisa ao carro, BMW de topo, e quando volta o colega diz-lhe que estacionou num lugar para inválidos.
- Que se fodam os inválidos!
E vá de gargalhar. Amesendam, mas precisam de largueza, puxam outra mesa. Para mim começa o espectáculo.
Os senhores trabalham na Polónia, vão a caminho de Lisboa, por momentos tratam a sério de assuntos profissionais, telefonam, riem muito. Entrementes vêm as "maminhas" de Varsóvia e arredores. As da secretária de X., que também é uma grande foda, e o cu divinal da Maria não sei quantos, os "odres" de sicrana; e a Franciska, essa é que eu ainda um dia destes enrabo, é só apanhá-la a jeito.
- Cuidado, pá. Pode estar alguém a ouvir.
Os olhos passam por mim e pelo resto, mas quem somos nós? Vamos ter ainda um quarto de hora de fodas e de mamas, de como as polacas são boas na cama, do entusiasmo com que corneiam os legítimos e apreciam a tesão meridional.
Levantam-se, saem a gargalhar na mesma balbúrdia em que tinham chegado. E eu, que de propósito demorei a sobremesa, fico a pensar neles, nas "maminhas" do Henrique, nas do Corta-Fitas, e de como é divertido este nosso mundo.