Trás-os-Montes não conta porque, como alguns afirmam, isto é um "fim do mundo", mas no resto do país pouco inglês oiço falar. E o que oiço da boca dos compatriotas raro brilha pela qualidade da pronúncia ou riqueza vocabular. Na blogosfera nacional, porém, quase toda a gente dá a impressão que come, dorme, copula, geme, sonha, escreve, cita, copia, chora e canta em inglês.
Vai-se de blogue para blogue, é um espantoso, embaraçoso, não mais acabar de canções e citações, poemas alheios ou de lavra própria, páginas e páginas a dizer "Olha isto! Olha para mim! Olha quanto sei! Estou ou não estou ao corrente?"
O que na blogosfera há de sério, inteligente, capaz, genuinamente culto, nem de longe faz contrapeso à banalidade, à pelintrice, ao infantilismo do mostruário de aparências e fingimento. E não me venham com a influência da televisão, do cinema, do rock, da Coca-Cola. Sabe-o você, sabemo-lo todos: achamos de menos valia e pouco afidalgado o que temos, vá então de arremedar e importar, fazer de conta, viver de ilusões e aparência.
Não é de agora. Para a minha geração e as anteriores era com o francês que se fazia bonito e botava figura. Dava menos na vista por serem outros os tempos, menos as gentes, e limitados os meios. Mais quand même.
Chego assim à melancólica conclusão de que isto de querermos parecer o que não somos, não temos, não sabemos e falamos mal, talvez seja coisa atávica, defeito que nos corre no sangue, e em vez de eliminar vamos refinando.