Ontem ao jantar. O caso ia a meio quando a campainha que tenho na cabeça, e antes desactivara, começou a retinir, alertando-me para a história.
Romance dá, tempo tenho, a questão é se me sobra vontade para espiolhar o preciso e meter-me, como noutra altura fiz, onde não sou chamado. Creio que não. Também não me vejo a correr riscos irresponsáveis na idade a que cheguei e, finalmente, cada vez me custa mais criar a mistura de pachorra e obstinação que a escrita pede.
Mas que caso! Tentáculos internacionais. Exotismo. Perigo. Ganância. Droga. Tráfico de armas. Prostituição. China Connection. Escravatura. E dinheiro. Rios dele a correr em condutas subterrâneas que desaguam em bolsos e daí escorrem para as contas de gente de respeito.
O mais fascinante, a valer um livro, é sair tudo isso do génio de um simples, um quase analfabeto, mas imparável força da natureza. Alguém que, vinte anos atrás, um banqueiro amigo me apontou na rua, dizendo:
- Quem o vê não imagina o homem que ali vai! O poder que tem! A gente que está por detrás dele!
Ao relembrá-lo acordei para a perturbante realidade de que é ilusória, mas altamente romântica, a calma destes montes, que escondem mais do que mostram.
- O Duarte Lima? O Vara? – prosseguia o narrador – Isso são títeres, gajos mandados. Massa e força tem este!