A frase creio que é de Lincoln, e diz que de vez em quando se pode mentir a este ou àquele, mas é impossível mentir a todos o tempo todo.
O mesmo vale para as amizades e simpatias. Jesus será capaz de amar o mundo inteiro, mas o mortal deve ter consciência das suas limitações e aceitar que não se pode sentir amizade e simpatia por todos, tão-pouco constantemente.
Além disso, no geral, a amizade e a simpatia raro têm a qualidade, força ou duração das que os romancistas entusiasmados colam por vezes nos seus personagens. Com a fragilidade dos humores, no dia-a-dia basta um remoque, uma piada inocente, um sorriso que se não deu, uma distracção, por vezes um boato ou suspeita, adeus "grande simpatia", lá se vai a "profunda amizade".
O que fazia salamaleques e simbolicamente nos apertava num "grande abraço", acena com dois dedos um adeusinho ou olha de esguelha e "não vê". Há os que de súbito se ressentem de que não gostamos dos seus amigos, discordamos das suas ideias, não nos une a adoração por Mahler. Outros suportam mal não sermos como eles de partidos, seitas, lojas, clubes, grémios, querem-nos também com antolhos e cabrestos, a admirar pastores, refastelados no quente do rebanho.
Amizades e simpatias, as genuínas, demoram a crescer, mas um nada lhes põe fim.