Por aqui há bruxas. Fazem-se rezas, preparam-se mezinhas. Enterram-se saquinhos de ervas nas fendas da parede da casa inimiga, nas encruzilhadas aparecem galhos em forma de cruz, leva-se terra das campas, espetam-se alfinetes em retratos. Faz-se a figa, gasta-se dinheiro a cortar o mau-olhado, atam-se ossos de galinha com fios de lã molhados em água-benta.
Viaja-se em segredo para Tenebrón, mais longe que Ciudad Rodrigo, onde há uma "senhora do poder" que quando está com os espíritos lhe saltam faíscas das pontas dos dedos. Cura cancros, artroses e ataques, já a viram na televisão.
Contam-se casos. Repara-se que ao falar em certos defuntos o lume esmorece na lareira. À cautela faz-se o sinal da cruz e há sempre uma anciã que conhece aquela oração do Livro de São Cipriano para empontar almas penadas. As labaredas reganham vivacidade. Digam o que disserem, mas nota-se, o calorzinho é outro, dá mais agasalho.
Muitos o afirmam: entre o Céu e a Terra há mais do que o que os olhos enxergam.