Aventuras não vivo. Surpresas? Talvez a da morte, se for súbita. Casos extraordinários? Há dezenas de anos que não testemunho um, os que me aconteceram diluem-se aos poucos em olvido, os personagens perdem contorno, as peripécias tomam o melado da literatura de cordel.
Histórias para contar não tenho. Pouco disposto a olhar para um umbigo que nunca mostrou ser de inspirações, giro em redor de mim mesmo, alucino que nem um dervixe, assusto-me com o vazio das horas.
É mau agouro. Em semelhante estado alguns fecham a porta e escondem-se do mundo; outros desesperam no anseio de que os notem: um conheço que veste por inteiro de preto, sapatos vermelhos, barbicha e bengalinha.
No meu caso tendo para o triste e a ironia, sou bom no apoucamento do que em mim se poderia aproveitar, muito capaz também naqueles interrogatórios que me faço no papel simultâneo de polícia e cadastrado.
O que aqui escrevo raro me satisfaz, é muitas vezes coisa apressada, feita sobre o joelho, como se dizia no tempo do lápis e papel. Por isso, agora que toda a gente regressa vou eu de férias, o que tem sido mais ou menos regular passa a esporádico. Não garante qualidade, mas deixa que pense duas vezes antes de me tomar a sério.