Nunca fui de beira-mar ou praias, não só pelo marulhar constante, a inquietude das ondas, a brisa e a areia, mas pelo espectáculo da humanidade desnuda.
É grande o respeito que me merece o semelhante, e desde há muito considero o vestuário um dos atributos que mais têm contribuído para a harmonia da sociedade e a paz dos olhares. Daí que a praia se me afigure a versão moderna de uma Cour des Miracles medieval. Os corpos que não ferem os olhos ou os alegram, são gota de água no Oceano Pacífico da exposição praticamente nua de adiposidades, fealdades e porcalhice, de modo que uma passagem pela praia – as minhas só por razões de ofício – tem consequências graves para o sossego da alma, o sono da noite e o respeito que devo ao próximo.
Enquanto tenho de estar e presenciar, incomoda-me a passividade daquela massa que, espichada ao sol, involuntariamente provoca a imaginação de horrendas cópulas, hábitos vis, atitudes indecentes, satisfações alvares, peidos e arrotos.
Dêem-me a rua e a roupa.