quinta-feira, agosto 11

Importância virtual


No tempo em que os cafés ainda não tinham TV, acontecia isso: as discussões sobre política passavam da discordância aos berros, daí aos insultos, uma vez por outra à zaragata de socos e bofetadas. Comportamento de simples.
Mas depois veio a liberdade, a TV a cores, encheram-se as universidades, chegou a internet, e no café do bairro bebe-se a bica, porque a discussão passou para o éter, onde, para bem de todos, a pancadaria é virtual e os insultos duram o tempo de um clique.
Ocorre-me isto a propósito de Londres. Mal se sabe de distúrbios, revoluções, atentados, ou que na Noruega um tarado matou gente às dúzias, logo os filhos e netos dos que antigamente berravam no café desatam a explicar, a mostrar consequências, a avisar dos perigos, a dizer como deveria ser mas que ninguém os ouve, e que a coisa acaba mal se não se aceitar a teoria assim e a hipótese assado.
Citam estudos, citam filósofos, apontam exemplos, facilmente os imagino diante do computador na ilusão de que falam ao público dum congresso ou a um bando de amotinados.
E pergunto-me o porquê de tanta discussão, da urgência de tantos e tão inócuos confrontos, desse saltitar de opiniões, que parece não ter outro fim além de satisfazer a vaidadezinha do pequenino eu.
Fora isso, senhores, que ilusões acalentam? Que provocam mudanças? Assustam alguém? Que os que mandam e (des)governam tomam nota do vosso saber e das vossas críticas?
Dia chegará em que se darão conta de que, entre a verborreia virtual e a discussão no café, esta última merece a preferência.