Foi na passada terça-feira, continua a doer. São sete da manhã e, hábito antigo, oiço as notícias da NOS, a estação oficial da rádio holandesa. Não há desastres de maior nem muito para informar, o programa termina com as previsões da meteorologia e a situação nas estradas.
Distraído, deixo o aparelho ligado, não atento na lengalenga da publicidade, acordo ao ouvir o nome de Portugal. Três economistas e dois políticos discutem a crise económica que afecta a Grécia e o nosso país, e eu, à medida que os oiço, vou encolhendo, vou-me envergonhando, cresce em mim a dor e a raiva da impotência. É a análise detalhada e fria do nosso atraso, da nossa fraqueza e desleixo, da incrível corrupção, da incompetência, da mendicidade que nos rebaixa.
Durante uma longa hora oiço o que preferia não ter ouvido, porque uma coisa é o conhecimento do que somos, bem outra é ouvir de estranhos e sem rodeios a verdade que nos dói.
Num dos meus cadernos de notas guardo um recorte da primeira página do Le Monde de 24 de Outubro de 1967, um pequeno quadro com o título Il suffirait d'une bombe, Seigneur! No texto o jornalista refere que no dia seguinte, na cerimónia da coroação do Xá da Pérsia, à qual assistiria um bom número de ditadores, tiranos e tiranetes, uma única bomba sobre o palácio imperial seria bastante para livrar dessa cáfila os países sofredores.
Assim é que desde terça-feira ando com uma ideia e faço uma prece. A maioria dos pulhas, trafulhas e traficantes que saqueia Portugal, vive em Lisboa. Bastará um terramoto, Senhor! Pagarão também os justos pelos pecadores, mas para um sem-número a morte será um alívio. Para os pobres, os esfomeados, os desempregados, os que sabem que vão perder o emprego, os idosos sem amparo, os que vivem no terror das contas e dos fins de mês, a pobreza envergonhada, tantos mais.
Um terramoto, Senhor!