Fora os casos em que o casal abençoadamente morre junto, por exemplo num desastre de automóvel, queda de avião, ou depois de um almoço de mau marisco, a regra é que um dos dois fica viúvo. Como os homens bebem mais vinho, sofrem aflições maiores e saem sempre derrotados do que Dalton Trevisan apropriadamente chamou “”a guerra conjugal”, resulta daí ser excedente o número de viúvas.
Confesso que no geral as viúvas me aborrecem. Aquele ar de sofrimento deveria ser reservado para a intimidade ou a solidão, não para ser exposto com o modo sombrio, mas orgulhoso, que tomam os antigos combatentes num desfile.
Entre as viúvas que se destacam no meu aborrecimento estão em pimeiro lugar as dos escritores. Ouvi-las ou lê-las sobre as excelentes qualidades, a excessiva sensibilidade e o excessivo talento do defunto, dá-me acessos de exagerado mau humor.
É que eu, ocasionalmente, tive oportunidade de tratar com o sacana, e dele não recordo virtudes. Sim rasteiras, traições, rapapés para cima, pontapés para baixo, mesquinhices, merdices, filhadaputices!...
E a viúva finge que ignora, mas digo-lho eu, que ando por cá faz algum tempo: olhe que talento também não tinha. Nem a fama que julga. Espere umas semanas e só o Google se lembrará dele.