Desde tempos imemoriais uma vez por mês, depois de três em três meses, finalmente de ano a ano, o homem tocava a campainha, a gente abria, ele identificava-se e, anunciando que vinha para o contador, agachava-se a anotar o consumo do gás e da electricidade.
Desde há uns dias tudo isso acabou. Veio um rapaz despachado que desaparafusou o contador clássico, substituindo-o em menos de dois tempos pelo que se vê na fotografia. Este optimista está sempre no zero, dando a ilusão de que a energia, por ser “verde” e eólica, se teria tornado grátis.
Assim fosse, mas assim não é. Na janelinha à direita dos zeros pisca irregularmente uma luz vermelha. Esse piscar informa os computadores da central não somente do consumo, mas sobre quantas lâmpadas e aparelhos estão ligados, que capacidade têm, a que horas funcionam, etc., etc. Algumas más-línguas dizem que o pisca-pisca espiona, informa muito mais. Se é incarnação doméstica do Big Brother orweliano prefiro não saber.
O homem perdeu o emprego e a conta vem por e-mail no primeiro dia do mês. Sem falha. Os desconfiados da precisão do aparelho podem ir à sede consultar o regulamento.