Fialho d’Almeida (1857-1911) continua a ser boa companhia sempre que vejo ocasião de sorrir a propósito de escritas e escritores, vaidades e tolices literárias.
“Quem percorre a maior parte dos livros portugueses escritos nos últimos quinze anos, abismado fica da falta de interesse inerente a quase todos, e da estulta preocupação que leva os autores a escreverem em ‘estilo nobre’, isto é, numa algaravia convencional, bocelada de retórica, eivada de incidentes, imagens cediças, frases feitas, através de cujo urdimento a atenção dos leitores se esfalfa, resultando a convicção de que uma tal literatura é apenas intrujice de dúzia e meia de espíritos palavrosos, ermos de gosto, sem ideais nem experiência do ofício.
Imagina-se em geral que todo o fiel patife, poeta ou prosador, capaz de arreglar sobre o papel, daquelas estopadas, fica ipso facto sagrado artista e homem de letras, e ninguém perscruta a razão por que, devendo ser a frase literária a expressão fotográfica instantânea, das ideias, escritor que tenha obscuro e supérfluo o estilo, é que certamente carece de limpidez nas figurações ou doutrinas que esse estilo é chamado a visionar.
As obscuridades de vocabulário pois, os torcícolos de frase, as arborências excessivamente complexas do período, longe de creditarem o talento pictoral do escritor, devem ao contrário sobreavisar-nos quanto ao pequeno peso e nenhum feitio da sua bagagem psicológica.”