sexta-feira, fevereiro 28

Depois do Knock-out

 



               Poderá a Europa ainda recompor-se depois das mocadas de Trump e Putin?

É um fedor

 

https://observador.pt/opiniao/as-explicacoes-que-temos-de-dar-a-luis-montenegro/

Cavar sem enxada

 

https://estatuadesal.com/2025/02/28/terras-raras-e-mentes-rarissimas/ 

 

"É neste momento, quando as duas superpotências acordam na tutela partilhada da Ucrânia, na vantagem de instalação de um regime em Kiev que assegure a ordem interna sem grandes perturbações, que as mentes raríssimas de Bruxelas, na União Europeia e na NATO, levantam a necessidade de criar um “exército europeu”! Este exército europeu é para fazer face a que ameaça? Aos tanques russos? Mas estes não passaram o Dnipro! Aos misseis russos, mas a Europa não é uma ameaça militar para a Rússia! O novo “exército europeu” é para constituir uma “força de interposição de paz” entre dois dos maiores exércitos do planeta?

As mentes raríssimas de Bruxelas entendem que é necessário criar um exército europeu para defender as empresas americanas que vão explorar as matérias primas ucranianas e a reconstrução de infraestruturas! Não se sabe é o que o tal exército vai defender! Vai defender as empresas americanas do exército russo?

A Europa não dispõe das matérias primas que quer os Estados Unidos quer a Rússia dispõem em grande quantidade, as “terras raras” que são raras na Europa, isso sim, os minerais ferrosos e carvão que permitem fabricar o aço, o petróleo e ainda terras aráveis, já concessionadas a grandes empresas agroindustriais americanas, mas as mentes raríssimas de Bruxelas entendem que os europeus devem criar e pagar um exército para garantir a segurança do negócio de fornecimento destas matérias aos Estados Unidos a título de pagamento eterno pelo armamento que lhes forneceram para uma guerra que correspondia aos seus interesses estratégicos no início do século XXI e deixou de fazer sentido!

As mentes raríssimas da Europa vão em fila a Washington pedir ao presidente dos Estados Unidos que deixe instalar um contingente militarmente irrelevante na Ucrânia em nome da defesa da Europa, que apenas está ameaçada pela desindustrialização e pela irrelevância resultantes da sua incapacidade de ter criado uma Europa com poder e como uma potência a ter em conta!"



quarta-feira, fevereiro 26

A língua que nos deram

 

Todos conhecemos momentos em que se hesita entre a gargalhada e o choro, mas não são esses os piores. Ruins mesmo são os que enfastiam e nos deixam num estado de prostração, porque pôr o dedo na chaga de nada adianta quando sabemos que nos falta remédio para ela.

Vem isto a propósito do fenómeno generalizado e nacional do arroto de postas de pescada no que toca o uso a língua inglesa. De doutor a semi-analfabeto há uma rapaziada a quem se lhes meteu na cabeça que a demonstração de ser fino, sabido, pertencer aos eleitos, à fina-flor, não dispensa umas pazadas de Inglês. E vá de arrotar. Ora em exclamações, ora citando meia página de Shakespeare, umas frases de Johnson, às vezes lavra própria, causando arrepios a quem sabe da poda e se pergunta se aquilo é sintoma de doença.

Porque doença é, e uma forma de pobreza. Nada mais deprimente do que ver alguém, julgando que bota figura no carnaval da intelectualidade, usar uma fantasia que lhe fica curta nas mangas.

Oiça, mesmo na forma simples e popular, a sua, a nossa língua-mãe é tão rica que lhe permite exprimir adequadamente, e até com elegância, os seus sentimentos, conviver, comunicar impressões, participar no trato social. Quer mais? Abra os ouvidos. Ainda há gente a falar um Português correcto. Quer apurar o vocabulário e o estilo? Tem aí Fernão Lopes, Vieira, Camões, Bocage, Fialho, Eça, Pessoa, tantos outros. Leia.

Mas por favor, caia em si, poupe-nos o espectáculo, não se envergonhe de quem é, de quem somos, da língua que nos deram.

 

domingo, fevereiro 23

Quando tudo muda

 

Um pouco mais de cinquenta anos passados, assisti à fundação deste bairro de Amesterdão – Zuidoost o seu nome oficial, Bijlmermeer o popular - e fui dos primeiro moradores. Desde então cresceu enormemente, andará agora ao redor de oitenta mil o total dos habitantes, mas entre eles são escassos os autóctones, pois o número de nacionalidades se calcula em cento e oitenta.

Quem vive no que, por facilidade, chamarei um bairro tradicional de Amesterdão, cidade com usos, ruas, canais e costumes seculares, dificilmente poderá fazer ideia do impacto causado no dia-a-dia do Zuidoost, por uma tão desmesurada mistura de pessoas, modos, línguas, crenças e costumes.

O passsante ocasional de pouco dará conta, mas se for dia do mercado certamente vai olhar perplexo, e caminhará de boca aberta, descrente da realidade que testemunha, e das línguas que ouve, do exotismo dos trajes. pois um ambiente assim seria de esperar na Nigéria ou no Ghana, mas não a escassos dez quilómetros do Palácio do Dam, na praça da capital dos Países Baixos.

Todavia, bem diferente será a sua impressão, caso lhe aconteça ter de andar por ali durante as chamadas horas mortas. Ainda não se pode comparar à Chicago dos anos vinte do século passado, mas pouco a pouco para lá caminha, pois não lhe faltam os ajustes de contas resolvidos a rajadas de Kalasjnikov, os assassinatos à facada, os raptos, os sequestros.

Tudo isso e mais, devido em grande parte às desmesuradas somas de dinheiro originadas pelo tráfico da droga. E da mesma maneira que faz pasmar a variedade de trajes exóticos, causa ainda maior surpresa ver miúdos quase imberbes a conduzir um Lamborghini, ou um daqueles Mercedes com que sonham os pais de família ao volante do Toyota.


sábado, fevereiro 22

O discurso do Vice-Presidente J.D. Vance em Munique

 

https://sol.sapo.pt/2025/02/21/munique-vance-tece-criticas-a-europa/

sexta-feira, fevereiro 21

Sempre os mesmos

 

" No he sido nunca nacionalista; pero he sido siempre nacional, y esto significa para mí sentir un entusiasmo siempre renaciente ante las dos docenas cosas españolas que están verdaderamente  bien y un odio invextinguible hacia todo lo demás que está verdaderamente mal".

                                                                                                Ortega y Gasset

 

A pergunta data provavelmente dos netos de Adão, mas esses não dispunham das possibilidades publicitárias do Novo Testamento, e assim nos encostamos a Pilatos quando, com ênfase, queremos saber o que é a Verdade.

Com a nossa e a alheia se confecciona a História, o curioso refogado de factos, mentiras e  aparências que, segundo o interesse dominante, levianamente muda de sabor e colorido.

Neste relato do ano e meio seguinte ao 25 de Abril de 1974 ninguém encontrará a Verdade, sim uma colectânea de factos e acontecimentos, uma ou outra profecia e os comentários que a mudança, mais radical na aparência que na realidade, me levaram então a fazer.

Por se destinar, sobretudo, ao público holandês que, nas palavras de um crítico, sabia então "assustadoramente pouco" de Portugal, inclui-se um resumo histórico que ao leitor português poderá parecer supérfluo. Contudo, se nunca os leu, talvez isso o leve a, proveitosamente, tomar conhecimento da "História de Portugal" e do  "Portugal Contemporâneo", de Oliveira Martins, e a admirar-se, como eu em permanência me admiro, que desde há tantos séculos sejam diminutas as mudanças de atitude do bom povo português em relação à res publica e aos que a tratam como coisa sua.

 

 

Numa tarde de Setembro de 1968 uma cadeira quebrada terminava a carreira política de Salazar. Todavia, durante os vinte e três meses seguintes a Morte, ironicamente, fez-se esperar, enquanto os jornais publicavam boletins dum optimismo tétrico: "O Presidente Salazar urinou".  "O Presidente Salazar já é capaz de escrever o seu nome".  O Diário de Notícias, lembrado de como antes se homenageavam os reis, dera-lhe um cognome: O Grande Ausente".  E durante esses vinte e três meses ninguém ousou dizer-lhe que já não reinava.

O Presidente da República, Caetano, os ministros, visitavam-no diariamente, punham em cena reuniões ilusórias, pediam a sua opinião, fingiam anotar os seus conselhos, seguir os seus mandos, "mas não tinham coragem de lhe contar a verdade".

 

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in Portugal, a Flor e a Foice

 

quarta-feira, fevereiro 19

É melhor fechar os olhos

 

https://resistir.info/v_carvalho/trump_rev_1.html

terça-feira, fevereiro 18

MAGA - Amen

 

https://delitodeopiniao.blogs.sapo.pt/maga-17899142#comentarios

domingo, fevereiro 16

Quando elas apalpam

 

https://observador.pt/opiniao/os-tiroteios-tiroteiam-os-carros-avancam-sobre-a-multidao-e-as-facas-esfaqueiam/

"O esplendor da oligarquia"

 

https://estatuadesal.com/2025/02/16/o-esplendor-da-oligarquia/

O rabo da porca

 

Desde que não prejudique o semelhante, nem o aborreça demasiado, cada um tem direito às suas crenças, bizarrias, certezas e toleimas. Mas onde, de modo em extremo desagradável a porca torce  o rabo, é quando se tenta determinar o limite aceitável entre o que parece um assalto de boas intenções, mas na realidade pode ser a ingénua arrogância de quem, indiferente à irritação ou à vontade do outro, insiste em ajudar.

Isso acontece demasiadas vezes com aqueles, que chegados ao que eufemisticamente se chama “certa idade”  - o meu caso -  se vêem sujeitos a um bombardeamento de bons conselhos, avisos, sugestões, “pírulas”, técnicas e processos que asseguram a saúde, o bem-estar, a agradável passagem do tempo. Todos com certificado de garantia, não somente travam de modo radical o envelhecimento, mas também contribuem para melhorar a qualidade do dia-a-dia, aumentando ainda o gosto de viver.

Felizmente, e para seu descanso, não lerá isto a boa alma que me trouxe o frasco que tenho agora defronte. A acreditar no papelucho anexo, a eficácia dos cem compimidos foi provada pela pesquisa feita a setecentos e setenta e sete suíços idosos, que depois de tomarem diariamente um grama de ácido gordo ómega-3 constataram, de modo irrefutável, ter sido retardado em três ou quatro meses o seu envelhecimento biológico.

Assim será. Já não rio, não sorrio, não gracejo, encolho os ombros, deixo andar. Mas essa é a aparência, certo e seguro que ninguém poderá dar conta da fúria que escondo no íntimo. Fúria que vai tanto para os intrujões e as suas promessas, como para os simples, que acreditam esconder-se nas pílulas destas ou de outras vitaminas, a certeza de dias calmos e o milagre de uma saudável longevidade.

 

 

sábado, fevereiro 15

Sargento Getúlio

 

Prezado sargento Getúlio, (*)

Que me lembre, poucas vezes ao começar uma carta terei ressentido uma tão singular desencontro de sentimentos como os que me tomam ao escrever esta.

Em primeiro lugar, porque não sei bem se o modo que uso em epígrafe é o mais adequado para me dirigir a si. Sê-lo-ia certamente para usar com um dos sargentos pouco militaristas de agora, desses que foram à escola e possuem uma noção democrática do respeito que se deve às pessoas e às instituições. No seu caso, creio que não. Você, sargento da Polícia Militar no Brasil dos anos 50, analfabeto ou quase, autoritário até à loucura, tem sobre o respeito ideias tão suas que, embora tal pareça absurdo, elas se tornam simultane­amente ridículas e universais, humanas e perigosas; num momento provocam a minha ira, mas por um estranho poder de corrupção logo a seguir me sinto obrigado a conceder que me parecem razoáveis.

Acontece também que nunca escrevi a um morto, o que faz acompanhar o acto de uma curiosa sensação de irrealidade. Isso, porém, não evita que noutra parte do meu ser, aquela em que existo sem as peias do espaço e do tempo, você tenha adquirido a qualidade de figura eterna e ponto de referência. Não é que lhe inveje a crueldade de lentamente esfolar um inimigo vivo, de se consolar ao fazer com que outro vomite os próprios intestinos, ou ao abrir à faca o ventre duma mulher grávida. Tão pouco posso apreciar o modo cego como você acata ordens, e menos ainda a agudez animal de, em tudo e todos, procurar o ponto fraco para depois, sem dó nem perdão, pensar apenas em destruir.

Contudo, nas horas escuras em que o impossível deixa de existir e o espírito anseia pela liberdade total, tenho-me surpreendido a imaginar que eu talvez não desgostasse de viver uma vida linear como a sua, em lugar de me ver submetido aos solavancos e à confusão do meu dia-a-dia. Porque o que sobretudo me fascina em si é a aceitação da existência sem regras, limitada a um único bem, o cumprimento da ordem, e reconhecendo somente um único mal, a desobediência à ordem. O resto, crueldade, medo, fome, dor, sofrimento, desaparece esmagado entre esses dois pilares que, no seu ver, com tão terrífica simplicidade delimitam tudo. Você prova o que eu preferiria não ver provado: que a vida pode ser vivida sem moral, sem beleza, sem amor; que todos os entusiasmos são fúteis, a alegria indecorosa e o carinho uma acção mecânica.

Felizmente, a minha sensibilidade e a consciência - ou serão apenas as minhas limitações? - levam a melhor, e passado o desvario retomo o que julgo ser a paz que me permite ir existindo. Só que essa paz dura pouco e, tendo conseguido semear em mim a desconfiança, no final é você quem vence.

Cruel e assassino, indiferente ao sentimento próprio ou alheio, maníaco com apenas uma ideia e avesso a tudo o que seja mudança, mesmo assim qualquer coisa em si toca o religioso, algo de inefável, de puro; algo que se apercebe ainda menos que o ligeiro toque da brisa e contudo se ressente forte como uma presença sólida, uma certeza.

Muitos dos bons sentimentos que a você faltam conheço-os eu de nascença, e quase tudo o que você é, o que faz e o que sente, é para mim odioso. Contudo, e esse será o mistério da admiração que você me causa e até certo ponto da minha inveja, enquanto eu nunca torturei nem matei, tenho a certeza que no dia em que comparecermos ambos no Julgamento Final, Deus fará para o meu lado um gesto de demissão e o acolherá a si com um sorriso de ternura. Porque só Ele sabe as razões que O levam a escolher a um para Seu instrumento do mal, e a atirar a outro para o anonimato da massa que, respeitosa da moral por temor à pena, cobardemente se conforma.

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(*) Personagem do romance Sargento Getúlio - João Ubaldo Ribeiro (1971).

 

 

 

sexta-feira, fevereiro 14

O peluche da EU é surdo

 

No  OBSERVADOR

Em vez da Ucrânia, JD Vance criticou a Europa pela "perda de valores fundamentais", censura e "altos níveis de imigração

Líderes europeus esperavam um discurso centrado no conflito da Ucrânia mas ouviram o vice-presidente dos EUA criticar duramente as políticas do velho continente, da liberdade de expressão à imigração.

 

O vice-presidente dos EUA, JD Vance, disse esta sexta-feira que a administração Trump “está está muito preocupado com a segurança na Europa”, referindo que a maior ameaça ao velho continente não é a Rússia mas sim a perda de “valores fundamentais” e a censura à liberdade de expressão. Vance criticou ainda a Europa, que, diz, ignora a vontade do seu povo, não respeita a liberdade religiosa e não impede a imigração ilegal.

“A administração Trump está muito preocupada com a segurança europeia e acredita que podemos chegar a um acordo razoável entre a Rússia e a Ucrânia”, disse o vice-presidente dos EUA, no discurso que fez na Conferência de Segurança de Munique. No entanto, e ao contrário do que se esperava, esta foi a única referência à guerra no discurso de Vance — que não abordou as ameaças de segurança externa à Europa, nomeadamente aqueles que poderão vir a ser protagonizadas por Moscovo. Em vez disso, Vance escolheu criticar o que considera ser a perda de “valores fundamentais” na Europa.

A ameaça que mais me preocupa em relação à Europa não é a Rússia, não é a China, não é nenhum outro ator externo“, disse Vance. “O que me preocupa é a ameaça interna – a retirada da Europa de alguns de seus valores mais fundamentais, valores partilhados com os Estados Unidos da América”, disse o vice-presidente norte-americano, citado pelo site Euroactiv. O vice-presidente dos EUA elencou vários exemplos do que considera ser a censura à liberdade de expressão na Europa, dando o exemplo do Reino Unido, onde um homem foi preso por realizado um protesto contra o aborto junto a uma clínica que realizava aquele procedimento.

“Na Grã-Bretanha e em toda a Europa, a liberdade de expressão, temo, está em declínio”, disse Vance, criticando ainda as leis europeias que, acusa, limitam a liberdade nas redes sociais ou que têm como alvo o que Vance designa como discurso cristão. Segundo o New York Times, a plateia recebeu as palavras do vice-presidente dos EUA com perplexidade.

Vance criticou ainda o cordão sanitária à extrema-direita em vários países europeus. “Se têm medo dos seus próprios eleitores, não há nada que a América possa fazer por vocês”, disse o responsável. Outra das críticas feitas por Vance incidou sobre a imigração na Europa – uma bandeira da administração Trump.

Segundo o NYT, o vice-presidente dos EUA pediu mesmo aos europeus que abandonem a recusa de cooperar com partidos anti-imigração, apelando a que as preocupações dos eleitores com os altos níveis de imigração sejam respeitadas. Vance fez ainda referência às vítimas do atentado em Munique, cometido por um afegão, esta quinta-feira, para defender um travão à imigração. “Quantas vezes devemos sofrer esses contratempos terríveis antes de mudarmos de rumo e levarmos a nossa civilização numa direção diferente?”, questionou, citado pelo site Politico.”