domingo, dezembro 1
Burros e elefantes
São suficientes as limitações que me apoquentam, mas razão de queixa não tenho, há muito aprendi a verdade do adágio antigo que “o que tem de ser tem muita força”.
Sendo assim, contento-me com uns resmungos sobre isto, aquilo, aquele, aqueloutro, e na medida do possível valho-me da surdez para escapar a discussões sobre política, que de modo geral se podem de facto igualar às muito aborrecidas conversas de chacha.
Desse modo não me aquenta nem arrefenta o que anuncia, pensa ou decide o Primeiro Ministro. Não dou um chavo pela ministra sicrana, pelo almirante beltrano, o general comentador de guerras, as Cristinas em que a plebe se espelha. Vivo quieto no meu canto, embora este quieto seja relativo, pois quando para os seus negócios o Zé Costa vem a Amesterdão - felizmente só de três em três meses – não será a primeira coisa que faz, mas não tarda que venha de visita.
Esteve cá na passada quarta-feira, e se felizmente já ultrapassei o estado de choque, ainda não me recompuz de todo, pois dados os abraços entrou ele de súbito no resultado das eleições na América. Ao ouvir-me esperançado de que a equipa de Trump o levará a acalmar os desmandos, julguei que lhe dava ataque. E foi sério o medo que senti ao vê-lo reagir assim, a cara retorcida, a esbracejar, tão furioso que se lhe entupia a voz.
Felizmente acalmou, avisando que se se punha em tal aflição, o fazia por ser muito meu amigo, e admirador de longa data. Mas ficassse a saber que alguns nossos conhecidos me têem por “direitolas”, o que ouvira também a uma senhora da televisão, amiga da Matilde, E a Matilde, a sua mais velha, não perdoava e nunca esqueceria, o eu ter fingido que me enganava na pronúncia e chamar “Kamela Harris” à candidata Democrata.