quinta-feira, outubro 12

Ganhar calo

 

Calo ganha-se nos pés, é o incómodo do muito que andamos. Criam-no nas mãos os que com elas trabalham. Calo doloroso ganha-se na alma, aquela parte de nós onde constantemente embate a malvadez alheia, a malquerença, a inveja, as mil gotas de veneno que tantos cordialmente dispensam, uns com o ar de displicente superioridade, outros mostrando a sanha de cão que guarda osso.

Dá-nos Deus possibilidades imensas e campo de sobra, um Sol que a todos aquece, mas nem isso aquieta os mesquinhos, roídos de ciúme pela serenidade alheia, o pão que o outro come e a alegria que mostra, o descanso que ganhou.

Morder, odiar, achincalhar, torna-se-lhes segunda natureza, vivem nesse pântano como peixe na água, iludidos pelo poder que se inventam, as certezas que se dão, a triste crença de se verem de tribuna e que uma multidão os aplaude.