Há dias em que por pouco, às vezes um nada, e adeus, lá se vai a boa disposição. Pequenos contratempos, mesquinhices, obrigações que sem vontade, e ainda menos paciência, se têm de cumprir, uma troca de palavras que cai mal. Há amizades que sem querer também por vezes contribuem, e nessa categoria cabe o primeiro lugar àqueles, felizmente poucos, que passavam por acaso na nossa rua, quando lhes ocorreu que o não nos vermos há séculos era justficação bastante para a inesperada visita.
A Mafalda pertence ao género. Setentona afável, endinheirada, solteira, sofre desde a adolescência da febre das viagens e, segundo diz, um incontrolável desejo de partilhar as suas impressões e experiências. Contudo, avessa que é às “geringonças da modernidade” – assim nomeia ela as redes sociais e o mais que não compreende ou acha difícil - essa partilha deve realizar-se apenas no seu subconsciente, pois em conversa usa três ou quatro adjectivos, o resto exprime-o com caretas, gestos, exclamações, um pfff! de vez em quando.
- Em 2021 fui pela primeira vez ao Canadá.
- Gostou?
- É imenso! Atravessei-o de comboio. Imagine, onze dias de Vancouver a Toronto! Onze dias! Até fiz rir uma alemã, quando lhe disse que para ir de Bragança a Faro devem ser umas cinco ou seis horas.
A Índia também lhe pareceu imensa, e Nova Iorque será gigantesca, mas nada que se compare com a Cidade do México. E então a Tailândia! Em país nenhum encontrou gente assim. Adorável! No Brasil já esteve sete ou oito vezes. Não é país, é um continente! Grande pena termos perdido aquilo, porque se ainda fosse nosso! A Marrocos irá este ano pela terceira vez. "Liindo! Liindo!"
No Natal esteve na Finlândia e não gostou, falam uma língua arrevezada.
- Agora a Noruega! Essa é incrível! A primeira vez que vi aqueles “fordes!"