domingo, agosto 13

Mas o que é a fama?

 

Tenho ideia de que há um pouco mais de meio século, contrariando as leis da Natureza a fama tem vindo a mudar, e a rejuvenescer-se de curiosa maneira. Desde tempos imemoriais, de modo geral a fama cabia a uns velhotes que na Física, na Medicina, na Matemática, nas Artes, e  duma ou doutra maneira, por talento, ciência, feitos ou sabedoria, tinham dado prova de se elevarem excpecionalmente acima do comum.

Depois, com uma rapidez de estontear, a fama como que se avacalhou. Já não é apenas famoso o que se distingue por feitos ou artes de importância, mas também e ainda mais, qualquer badameco que se agita, urra, guincha, dá patadas ou tatua o rabo.

Se demorava anos, décadas, uma vida, a alcançar a fama, ela hoje é rápida, por vezes mesmo instantânea como o Nescafé. Ao puto que mal saído das fraldas dedilha uma guitarra no YouTube, cabe fama com que, por ambicioso que seja, nenhum cientista ou sábio se atreveria a sonhar.

Quer isto dizer, e por má sorte não é apenas em questões de renome, que andam as coisas fora dos eixos. Hoje em dia, como a solidez dos valores e das certezas iguala a da espuma, um pobre de espírito tem mais probabilidades de do dia para a noite se tornar famoso, que aquele que gasta anos a pintar um quadro, cega a examinar bichinhos com o microscópio, passa as noites à procura de planetas na infinidade do espaço.

Será um mal? Parece-me que não. Há mesmo certa lógica neste evoluir, pois seria bizarro termos famosos como os de antigamente, tanto mais porque poucos os entenderiam. Pelo que oiço dizer, são multidão os que já  acham complicadas em demasia, as chamadas quatro operações que não conseguiram aprender na primária. De modo que teremos de nos contentar com os talentos destes famosos, e bem o merecemos.