quarta-feira, agosto 16

Bordamerda

 

Ao jovem e simpático jornalista que me entrevistou, falei com a franqueza que me merece o interlocutor. Li depois que, devido ao meu frequente uso de vernáculo, sentia ele que iria ter dificuldade em editar a nossa conversa,. Assim terá sido, pois talvez no mundo em que funciona seja de bom-tom a linguagem elíptica e, para não ferir susceptibilidades, se evite chamar às coisas pelo seu nome.

Mas eu, que não tenho de dar contas, de ninguém dependo, quando falo aproxima-se-me o coração perigosamente perto da língua. De modo que se no comportamento o sujeito se mostra um filho-da-puta, é esse o predicado que de mim leva. Acho isto e aquilo uma merda, pois assim lhe chamo, sem ter de me encostar a Gil Vicente, Bocage, ou mais clássicos, apoiado tão-só na língua que herdei, falo, me é muito querida pela subtileza que permite, de par com expressões que, para meu consolo e aborrecimento alheio, acertam no alvo.

Há que ter peso e medida, de mim ninguém ouvirá caralhadas, mas a harmonia na terra entre os homens de boa-vontade não se mantém à custa de falácias e rodriguinhos, sim com equilibrado decoro, lisura e, quando oportuno, um sonoro e vernáculo bordamerda.