Por andanças da vida, no decurso de tantas décadas foi diminuto o meu uso activo da língua portuguesa falada. Livros e jornais não bastam para acompanhar a sua evolução, e as eventuais conversas podem alertar para um atraso, uma diferença, mas pouco ajudam a preencher as lacunas causadas pelo afastamento e o desuso.
Nasceu-me daí uma espécie de alergia a certos modernismos e brasileirismos importados com as telenovelas; incomodam-me os anglicismos pedantes dos especialistas que só com eles conseguem falar das Letras e das Artes; posso mal com o jargão autárquico e parlamentar; aflige-me que a vizinha analfabeta já não diga que toma remédios, mas que está com medicação.
A língua portuguesa seguirá o caminho que, com acordos ou discordando, lhe preparam os seus falantes e escritores. Esta minha birra é coisa pessoal, anota apenas uma espécie de desânimo causado pelo desfasamento de que falei, e talvez também por diferenças de sensibilidade. Mas não há jeito a dar-lhe, mesmo sem razão continuarei embirrento.
Deve ter sido nos anos oitenta que pela primeira vez ouvi a palavra plantel aplicada ao futebol. Assustei-me. Vinha do espanhol, eu só conhecia o significado original da palavra argentina que davam os dicionários: "grupo de animais de boa qualidade reservados para reprodução". Vertente assim e desafio assado, apostas, desalavancagens, roupa vintage, produtos gourmet (por onde andarão as iguarias?).Aqui pela aldeia passam citadinos a falar de ruralidade, sustentabilidade, alteridade geraciona, workshops para idosos. E ninguém ri.
Ri eu, tempos atrás e com boa razão, ao visitar nos confins transmontanos um Spa & Resort. Aí, num ambiente de desusado luxo, uma massagista de tacões agulha e generoso decote, fazia uma demonstração da sua técnica nos lombos de um autarca.
..............
“I am always sorry when any language is lost, because languages are the pedigree of nations."
Johnson