sábado, dezembro 24

Pedantice

 

Por andanças da vida, no decurso de tantas décadas foi diminuto o meu uso activo da língua portuguesa falada. Livros e jornais não bastam para acompanhar a sua evolução, e as eventuais conversas podem alertar para um atraso, uma diferença, mas pouco ajudam a preencher as lacunas causadas pelo afastamento e o desuso.

Nasceu-me daí uma espécie de alergia a certos modernismos e brasileirismos importados com as telenovelas; incomodam-me os anglicismos pedantes dos especialistas que só com eles conseguem falar das Letras e das Artes; posso mal com o jargão autárquico e parlamentar; aflige-me que a vizinha analfabeta já não diga que toma remédios, mas que está com medicação.

A língua portuguesa seguirá o caminho que, com acordos ou discordando, lhe preparam os seus falantes e escritores. Esta minha birra é coisa pessoal, anota apenas uma espécie de desânimo causado pelo desfasamento de que falei, e talvez também por diferenças de sensibilidade. Mas não há jeito a dar-lhe, mesmo sem razão continuarei embirrento.

Deve ter sido nos anos oitenta que pela primeira vez ouvi a palavra plantel aplicada ao futebol. Assustei-me. Vinha do espanhol, eu só conhecia o significado original da palavra argentina que davam os dicionários: "grupo de animais de boa qualidade reservados para reprodução". Vertente assim e desafio assado, apostas,  desalavancagens, roupa vintage, produtos gourmet (por onde andarão as iguarias?).Aqui pela aldeia passam citadinos a falar de ruralidade, sustentabilidade, alteridade geraciona, workshops para idosos. E ninguém ri.

Ri eu, tempos atrás e com boa razão, ao visitar  nos confins transmontanos um Spa & Resort. Aí, num  ambiente de desusado luxo, uma massagista de tacões agulha e generoso decote, fazia uma demonstração da sua técnica nos lombos de um autarca.

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“I am always sorry when any language is lost, because languages are the pedigree of nations."

Johnson