sábado, agosto 27

A vida e Clausewitz

 


São muitas e estranhas as razões que nos prendem a língua. O que calamos por medo, tibieza, cobardia, mas também por caridade, outras vezes desencanto, a perguntarmo-nos como é que depois somos capazes de sorrir com tanta naturalidade.

Fechamos os olhos e o entendimento, somos prontos no salamaleque, com um gesto largo damos ao outro a primazia e encolhemos o pé que preparava a rasteira.

É corrente dizer-se que a vida é teatro, e é possível que para os simples assim seja, mas na realidade está longe de sê-lo. A vida é campo de batalha, com lutas corpo-a-corpo e bombas armadilhadas, explosões, sabotagens no escritório, nos tribunais, na estrada, nos armazéns, no estádio, na cama de casal.

Descreiam os que ainda não assistiram nem participaram, mas também a esses chegará a hora de calar, como hão-de aprender que a serenidade do dia-a-dia é cortina de fumo a esconder ataques e contra-ataques, hostilidades em que nada contam os armistícios, as tréguas para recolher feridos, os acenos de bandeira branca.

A vida, como Clausewitz o diz da guerra, é o domínio do esforço físico e do sofrimento.