terça-feira, março 8

A grande felicidade

 No tempo remoto em que os nossos antepassados vestiam peles, usavam moca e,fazia pouco,  tinham descoberto o fogo e a linguagem, um deles, numa tarde amena em que sol brilhava, roídas as costeletas do porco que a noite antes tinha caçado, deitou-se à entrada da caverna e, gritando aos vizinhos: "Que grande felicidade !" – estragou o conceito.

Desde então, ao longo dos milénios e incessantemente, não nos contentamos com outra: queremos a grande felicidade. "Que felicidade!" só grita aquele que na rua escapa a um tombo ou apanha o autocarro no último instante, para o mais só a "grande" satisfaz.
Diz o padre aos noivos que vão conhecer uma grande felicidade, o mesmo ouvem os avós e os pais no nascimento do bebé. Os amantes sussurram-no no pós-coito dos quartos de hotel, os adúlteros e os larápios pensam-no quando por um triz escapam à descoberta, os políticos anunciam-no da tribuna cada vez que o defraudam os cidadãos.
Por enquanto não vejo que aconteça, mas talvez um dia nos habituemos a esquecer o adjectivo.